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Breve reflexão sobre sua simbologia durante a pandemia
INTRODUÇÃO Sobre ENTRARO Brasil e as tantas variações desse país, onde o projeto escravocrata e colonizador segue seu curso sistemático nas relações entre povos racializados (sobretudo negros e indígenas) e brancos, tem como um de seus trágicos emblemas que marcaram o início da pandemia de SARS-CoV-2 a morte de uma empregada doméstica, moradora de região periférica do Rio de Janeiro, contaminada no apartamento onde trabalhava, no Alto Leblon, pela patroa que viajara recentemente à Itália.1 Essa circunstância alegórica escancara a vulnerabilidade da população periférica, projetada para fora do centro e negligenciada pelo poder público nesse projeto de abandono histórico e de recrudescimento da noção de sujeito/sujeito, sujeito/objeto.2
[1] Mariana Simões, “Primeira morte do Rio por coronavírus, doméstica não foi informada de risco de contágio pela ‘patroa’”. Publica, 19 de março de 2020, acesso em 7 de dezembro de 2021, https://apublica.org/2020/03/primeira-morte-do-rio-por-coronavirus-domestica-nao-foi-informada-de-risco-de-contagio-pela-patroa/.
[2] Flo Menezes e Vladimir Safatle, A potência das fendas (São Paulo: N-1 Edições, 2021).
A inscrição em X na calçada organizava o distanciamento durante a formação de filas em frente a uma Unidade Básica de Saúde em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Contudo, o que essa inscrição me sugere é uma sequência de cruzes amarelas enquanto registro de um número estúpido de óbitos pela pandemia entre pessoas negras, indígenas e racializadas, sendo a repetição desse padrão contínua e extenuante. O registro dessa série de cinco colagens fotográficas procura promover essa reflexão, ao mesmo tempo em que relaciona o símbolo da cruz às sucessivas imagens de enterros e cerimônias de despedida entre milhares de familiares de vítimas da Covid-19 no país.